sexta-feira, 22 de outubro de 2021

Prostituição e espiritualidade

(Estatua de alabastro da deusa-deus Ishtar, Babilônica, 350 antes de Cristo)

Para nossa cultura, influenciada pela moral judaico-cristã, sexo está sempre associado a transgressão, é algo errado, sujo, pecaminoso, vergonhoso, que dirá o sexo fora do casamento... 

Mas olhando além, por todo o mundo temos exemplos de culturas em que o sexo é visto sob uma luz mais positiva, e eu ousaria dizer, mais condizente com o que ele é e promove: prazer, procriação, só coisas boas. Nessas culturas a libido é desejável, celebrada e tem um lugar no meio das coisas consideradas sagradas.

Inana é a divindade patrona da mais antiga cidade da história, Uruk, na antiga Mesopotamia, próximo da região onde é o atual Iraque. No que tange a sexualidade e o erotismo, sua personalidade é o oposto das personalidades sagradas do Cristianismo, do Judaísmo, e até mesmo das de muitas culturas não-abraâmicas, como a Egípcia, a Grega, e a Romana, com suas santas e deusas maternais, monogamicas ou até mesmo castas... Inana é dona de uma sexualidade livre e, de fato, prostituta é um dos seus epítetos.

Em seu primoroso livro Babilônia, A Mesopotamia e o Nascimento da Civilização, Paul Kriwaczek conclui que essa sexualidade avançada, pra frente como diríamos, rs, é natural a um povo ousado como os sumérios, porque somente um povo inclinado a inovação poderia inventar tudo o que eles inventaram: a roda, a escrita, e a civilização.

A prostituição é a especialização no campo das práticas sexuais e do erotismo, assim como os profissionais de outras áreas os profissionais do sexo são pessoas que se dedicam a aprimorar tudo ligado a essas atividades, são epitomes de sensualidade, aptidão sexual e sedução da mesma forma que um cheff da culinária faz na área da alimentação e da nutrição. E ela estava lá, em sua melhor forma, no centro da cultura mãe da Civilização. 

Felizmente nós podemos conhecer sua incrível visão de mundo e renovar nossas definições de sofisticação cultural e de humanidade com um referencial muito mais saudável do que o nosso atual.

E você, minha amiga e meu amigo pra frente, já rezou em agradecimento a Inana hoje? Rs

Nome social, pronomes e gênero

Pode parecer estranho mas durante a minha vida, das cantadas que já levei há uma que mais gostei e que lembro até hoje, eu tinha uns 17 anos, foi feita por um cara abraçado a uma companheira: "puta que pariu, me desculpa amor, mas que viado lindo!".

Por outro lado não gosto quando a cantada é, "te vejo como mulher", e outras semelhantes, talvez porque eu as veja como um reducionismo, porque a definição de mulher da maioria das pessoas não engloba muito do que eu sou, nem feminilidade nem a masculinidade me comportam. As definições do que é considerado masculino e feminino mudam conforme a época, na França do século dezessete por exemplo, auge do barroco, o rei Luís XIV usava sapatos com salto (invenção que tinha originalmente a finalidade de ancorar o cavaleiro ao cavalo), peruca, longas vestes com tecidos ricamente ornamentados, maquiagem, enfim, algo bem diferente do nosso conceito atual de masculinidade...

Eu acho que, no meu caso, a feminilidade foi algo com que eu acabei me identificando para ter um pouco de paz e liberdade sendo quem eu era, porque as minhas preferências estéticas e meu temperamento eram considerados inadequados para uma pessoa do meu sexo, então chegou uma época que, em vez de abrir mão da minha identidade e minhas predileções eu preferi resolver esse dilema DAS OUTRAS PESSOAS (não meu), dizendo "ok, se pra ser quem eu sou preciso ser mulher, então que eu seja mulher pra poder ser eu mesmo", e assumi um nome feminino por ser costume na comunidade transgênero.

Mas na verdade eu nao me vejo como mulher. Eu me vejo como homem, isto é, um indivíduo macho da espécie homo sapiens sapiens. Mas um homem audacioso o suficiente pra vestir, se expressar e fazer o que preferir, não o que os outros ditam.